Cultura

6 livros da lista de nomeados para o Women’s Prize 2024

Já foram divulgadas as longlists dos dois prémios atribuídos anualmente pela fundação britânica The Women’s Prize Trust, que tem como missão celebrar e amplificar as vozes e criatividade femininas na literatura, através da criação de novas oportunidades e plataformas para as futuras leitoras e contadoras de histórias.

Desde 1996 que esta fundação distingue anualmente o melhor romance escrito por uma mulher, publicado no Reino Unido no ano anterior, com o seu prémio de ficção, o Women’s Prize for Fiction. Criado com o intuito de equilibrar o nível de reconhecimento concedido às escritoras em comparação com os seus pares masculinos, tornou-se um dos prémios literários mais prestigiados e influentes a nível global.

Todos os anos, um painel de cinco mulheres, consideradas referências nas suas áreas profissionais, elegem a obra vencedora, de acordo com três critérios que se mantêm inalterados desde a criação do prémio: excelência, originalidade e acessibilidade. Este ano, na 30ª edição do prémio, o jurí é presidido pela escritora Kit de Waal. Junta-se a ela a primeira vencedora do Orange Award for New Writers, Diana Evans; a escritora, jornalista e ativista pela saúde mental Bryony Gordon; a Editora-Chefe da Glamour UK, Deborah Joseph; e a compositora Amelia Warner.

Na edição do ano passado, a obra vencedora foi Brotherless Night, de V. V. Ganeshananthan, que dá voz às histórias marginalizadas de mulheres de etnia Tamil, estudantes, professoras e cidadãs comuns, explorando as complexidades morais da violência e do terrorismo num contexto de opressão e exílio.

Desde o ano passado que esta organização atribui também o Women’s Prize for Non Fiction, que visa combater a persistente desigualdade no reconhecimento de autoras na área da Não Ficção. A obra vencedora de 2024, a edição inaugural deste prémio, foi Doppelganger de Naomi Klein, que nos convida a refletir sobre o nosso próprio reflexo no espelho. Destina-se a quem já perdeu horas no labirinto da Internet, a quem questiona porque é que a política se tornou tão distorcida e aos que procuram escapar o turbilhão coletivo para voltar a lutar pelo que realmente importa.

Este ano, para cada um dos prémios, foram selecionadas 16 livros de diferentes géneros, cada um merecedor da nossa atenção. Conheça as nossas sugestões de entre as obras nomeadas, para uma leitura sem dúvida perspicaz, envolvente e inovadora.

Ficção

De Quatro, de Miranda July

O último livro da cineasta, artista e autora Miranda July, promete uma abordagem brilhante e desafiadora à literatura. A autora narra a história de uma artista californiana que interrompe a sua vida com o marido e o filho num bairro de classe média em Los Angeles, para uma viagem a Nova Iorque. Com a agenda cheia de exposições e espetáculos, compromissos sociais e profissionais, esta viagem toma um novo rumo quando, com um prémio avultado que acaba de receber, reserva um quarto num dos melhores hotéis, e após uma conversa numa festa, decide viajar não de avião, mas de carro.

Apenas trinta minutos depois, para numa bomba de gasolina e acaba por prolongar a estadia num motel, que redecora e transforma. Porquê? Nem ela sabe. De Quatro é um romance lúcido, divertido e uma reinvenção vibrante da vida quotidiana. A edição em português da Quetzal tem lançamento previsto para 3 de abril.

Inventário de Sonhos, de Chimamanda Ngozi Adichie

O novo e arrebatador romance de Chimamanda Ngozi Adichie acompanha a vida de quatro mulheres, com uma perspicaz exploração dos seus amores, medos e ambições. Chiamaka, uma escritora nigeriana nos EUA, enfrenta a solidão e os arrependimentos do passado. Zikora, advogada de sucesso, procura apoio em alguém improvável após uma traição devastadora. Omelogor, figura de destaque na alta finança nigeriana, começa uma ousada jornada de instrospeção e auto-conhecimento. Kadiatou, empregada doméstica a criar a filha nos EUA, vê o seu futuro e as suas conquistas ameaçadas por um acontecimento inesperado.

Inventário de Sonhos é um romance fulgurante sobre as escolhas que fazemos e as que nos são impostas, sobre o amor, a felicidade e a honestidade que devemos a nós mesmas. Adichie confirma o seu estatuto como uma das escritoras mais relevantes da atualidade, com a sua escrita poderosa e bela, que observa implacavelmente o coração humano.

A Guardiã, de Yael Van Der Wouden

Países Baixos, 1961. A guerra terminou há mais de 15 anos e o país ergueu-se das cinzas. Mas nem tudo foi apagado pelo tempo. Nos arredores de Utreque, Isabel vive sozinha na casa herdada da mãe, mantendo-a impecável, quase intocada. Só a criada e, ocasionalmente, os irmãos são permitidos a entrar. Até que uma intrusa invade a sua vida: Eva, a nova namorada de um dos irmãos, que se instala inesperadamente. Durante o verão abrasador que se segue, o espaço fechado é habitados por aquelas duas mulheres. Eva é livre e imprevisível. Isabel, por outro lado, tenta proteger o que resta do seu mundo, mas as relíquias começam a desaparecer, uma a uma.

Em A Guardiã, Yael van der Wouden cria um romance intenso e sensual, onde o suspense asfixia e a tensão cresce. Uma estreia literária arrebatadora.

Não ficção

Autocracia, Inc.: Os ditadores que querem governar o mundo, de Anne Applebaum

Todos conseguimos evocar uma imagem estereótipada do que é um estado autocrático: um homem mau, no topo do castelo. Mas, no século XXI, as autocracias não são dirigidas por um único tirano, mas por redes sofisticadas de estruturas financeiras cleptocráticas, serviços de segurança e propagandistas profissionais que enfraquecem a democracia. Estas redes operam dentro de cada país, mas também entre eles, ligando entre si empresas estatais corruptas, forças policiais e exércitos de trolls disseminadores de propaganda. Diferente das alianças militares ou políticas do passado, este sistema funciona como um conglomerado empresarial: Autocracy, Inc. A cooperação é agora puramente transacional: não assenta em valores partilhados, e cruza facilmente fronteiras ideológicas, geográficas e culturais.

O livro de Anne Applebaum vai ao fundo da questão, oferencedo uma análise sobre a origem desta visão do mundo, porque persiste, como funciona e como o próprio mundo democrático contribui para a sua consolidação — e, mais importante, como podemos derrubá-la.

A Thousand Threads, de Neneh Cherry

A cantora sueca Neneh Cherry sempre desafiou convenções. Quando subiu ao palco do Top of the Pops em dezembro de 1988, grávida de sete meses e vestida com um ousado conjunto dourado, o mundo ficou logo a saber que esta não era uma artista comum. Conhecida por sucessos como Buffalo Stance e Manchild, Neneh Cherry marcou a fusão do hip-hop e pop, influenciando gerações desde o início da sua carreira em Londres no auge do punk, até aos dias de hoje.

Neste livro de memórias íntimo e envolvente, Neneh partilha a sua trajetória, desde os primeiros passos na música até ao estrelato, com todos os desafios da fama, relacionamentos, lutas pessoais e momentos de triunfo. Entre colaborações marcantes, amores, perdas e reencontros, a sua história é também a de três gerações de artistas e músicos que moldaram a sua identidade. Um relato sincero e poderoso sobre música, família e resiliência, contado por uma verdadeira pioneira.

Raising Hare, de Chloe Dalton

Quando o confinamento levou Chloe, a deixar sua vida ocupada na cidade e regressar ao meio rural da sua infância, nunca imaginou tornar-se responsável por uma pequena lebre recém-nascida. Mas ao encontrar a criatura, do tamanho da sua palma, indefesa e sozinha, sentiu-se na obrigação de lhe dar uma oportunidade de sobrevivência.

Raising Hare acompanha a sua jornada em conjunto, desde os desafios de criar a pequena lebre até à sua preparação para regressar à natureza. Entre momentos de descoberta e um vínculo improvável, esta história baseada em factos reais relembra-nos da beleza do mundo natural e da esperança que pode surgir nos encontros mais inesperados.
Artigo original: Bertrand Livreiros