Cultura

Os livros que inspiraram os nomeados para os Globos de Ouro 2020

Domingo, 5 de janeiro, todos os olhos estiveram postos em Hollywood, mais concretamente na 77.ª Cerimónia dos Globos de Ouro 2020, relativa aos filmes e séries de televisão que estrearam em 2019. Entre os grandes nomes do cinema, o serviço de streaming Netflix ganha cada vez mais força, com produções originais como Marriage Story e The Irishman com cinco e quatro nomeações, respetivamente.

Conhecidos quem são os vencedores, e porque nunca é tarde para acrescentar novos títulos às suas listas de desejos, conheça os livros que inspiraram os nomeados para os Golden Globes 2020.

» O IRLANDÊS, DE CHARLES BRANDT

Produzido por Martin Scorsese a partir da Netflix, The Irishman é um dos filmes com mais nomeações nos Globos de Ouro. A adaptação cinematográfica surge do policial escrito por Charles Brandt, originalmente publicado em 2004 e que chegou a Portugal, em 2019, com a Editorial Presença.

O autor norte-americano dedicou cinco anos a entrevistar Frank Sheeran, o assassino a soldo a quem se atribuía o assassinato de Jimmy Hoffa, em 1975, o poderoso líder do sindicato dos camionistas americanos.

A partir das centenas de gravações das suas conversas com Sheeran, surgiu este livro, no qual os acontecimentos são narrados nas próprias palavras do criminoso, que chegou a trabalhar para Russell Bufalino, lendário chefe do crime organizado.
Sheeran sugere que o motivo principal da execução de Hoffa foi a ameaça que este tinha feito de contar tudo o que sabia sobre a participação da máfia no assassínio de John F. Kennedy, na cidade de Dallas, em novembro de 1963.

» DOIS PAPAS, DE ANTHONY MCCARTEN

The Two Popes, igualmente produzido pela Netflix, recebeu quatro nomeações, como as de Melhor Actor para os protagonistas principais, Anthony Hopkins e Jonathan Pryce.
Tal como o nome indica, esta é a história de uma relação pouco convencional entre dois homens e uma transferência de poder sem precedentes.

Em fevereiro de 2013, o Papa Bento XVI anunciou que iria demitir-se do seu trabalho no Vaticano, tornando-se o primeiro Papa a afastar-se do cargo, de livre vontade, em 700 anos. O seu sucessor surpreendeu o mundo inteiro: Francisco, o primeiro não-europeu a ser eleito, conhecido pela sua paixão pelo futebol, pelo tango e a sua sensibilidade única.

Anthony McCarten, que também escreveu o roteiro do filme, imerge bem no centro do Vaticano, numa tentativa de compreender como é que Bento se afasta de um lugar poderoso, sabendo que o seu sucessor revolucionaria, de uma forma completamente diferente, o seu legado. Paralelamente, procura também perceber como é que Francisco, que costumava deslocar-se de autocarro para o trabalho, em Buenos Aires, consegue ajustar-se enquanto líder de uma Igreja com mais de um bilião de seguidores.

» O CÉU NUMA GAIOLA, DE CHRISTINE LEUNENS

Ainda que o filme tenha uma carga bem mais infantil e humorística, o mesmo não se poderá dizer da obra adaptada, escrita por Christine Leunens.

Em plena II Guerra Mundial, Johannes Betzler, membro fanático da Juvenude Hitleriana, é ferido num ataque aéreo. Forçado a viver na casa dos pais, descobre que estes escondem, ilegalmente, uma rapariga judia. A ideia de uma fugitiva a viver por trás de uma parede falsa na sua própria casa horroriza-o.

Após a repulsa inicial, o jovem sente-se obcecado por Elsa. Subitamente, os pais desaparecem sem deixar rasto, e Johannes é a única pessoa que sabe da existência de Elsa. Dividido entre a responsabilidade pela sobrevivência da rapariga e a sua lealdade à pátria, a perceção que tem da realidade começa rapidamente a dissolver-se.

Este romance, publicado pela Editorial Presença, chega em janeiro às livrarias portuguesas. No cinema, Johannes é o pequeno Jojo Rabbit, protagonizado por Roman Griffin Davis, também nomeado para a categoria de Melhor Actor num Musical ou Comédia.

» PEQUENAS GRANDES MENTIRAS, DE LIANE MORIARTY

Seis nomeações e quatro prémios depois, a série de televisão da HBO volta a destacar-se nas nomeações dos Globos de Ouro. Para a cerimónia de 2020, Big Little Lies estava nomeada como Melhor Série Dramática, juntamente com Nicole Kidman e Meryl Streep, protagonistas da última temporada.

Se ainda não começou a ver os primeiros episódios desta série, talvez se sinta tentado a descobrir o livro primeiro: Pequenas Grandes Mentiras, de Liane Moriarty, explora a história de três mulheres, Madeline, Celeste e Jane, que se unem devido a um acidente e criam uma amizade, aparentemente indestrutível, até ao dia em que, de forma inexplicável, alguém morre numa festa, na vila costeira de Pirriwee.

No pequeno ecrã, a primeira temporada explorou o conceito do livro de Moriarty por completo; contudo, e devido à receção positiva por parte dos espectadores, a produção decidiu continuar para uma segunda temporada, que contou com a participação exclusiva de Meryl Streep.

» VOZES DE CHERNOBYL, DE SVETLANA ALEKSIEVITCH

A série de televisão, também produzida pela HBO, foi considerada uma das melhores de 2019. Comparada aos níveis de excelência de Game of Thrones, não é propriamente novidade aqui no blogue, após ter arrecadado 19 nomeações nos Emmy 2019. Este ano, Chernobyl contou com 4 nomeações nos Globos de Ouro, entre as quais a de Melhor Telefilme ou Série Limitada.

Paralelamente, Vozes de Chernobyl é a mais aclamada obra de Svetlana Alexievich, Prémio Nobel de Literatura 2015, tida como o seu trabalho mais duro e impactante. O Nobel foi atribuído pela sua “obra polifónica”, descrita como “um memorial ao sofrimento e à coragem na nossa época” (via Público). No entanto, a brutalidade da escrita da autora bielorrussa não é para todos; a sua obra relata um dos momentos mais marcantes da nossa história, o desastre nuclear de 1986 em Chernobyl, contando a história dos que viveram a tragédia, em primeira mão, desarmando o leitor desde o início.

Artigo original: Bertrand Livreiros