Cultura

10 curiosidades sobre Saramago

No aniversário da morte de José Saramago (16/11/1922 – 18/06/2010), recordamos o Prémio Nobel da Literatura (1998), partilhando algumas curiosidades sobre o autor. Já as conhecia?

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Nós, livrólicos, sabemos a importância que um primeiro livro tem na vida de um leitor. Mas sabe qual foi o primeiro livro que Saramago teve? Foi um presente da sua mãe, um romance de Émile de Richebourg, intitulado Toutinegra do Moinho;

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Sabia que o seu apelido não era Saramago? Sim, um dos nomes mais reconhecidos da literatura portuguesa poderia ter sido diferente, não tivesse sido o caso de, na altura do seu nascimento, um funcionário do Registo Civil da Golegã ter decidido incluir, como apelido na sua certidão de nascimento, a alcunha familiar, Saramago. Cabe esclarecer que saramago é uma planta herbácea espontânea, cujas folhas, naqueles tempos, em épocas de carência, serviam como alimento na cozinha das pessoas com mais dificuldades económicas. Não tivesse sido assim e José Saramago seria conhecido hoje como José Sousa, tal como o seu pai;

3

Se o seu primeiro emprego não é o que sonhava, não desespere. O primeiro emprego do único (até à data) Nobel português da Literatura foi de serralheiro mecânico, numa oficina de reparação de automóveis, tendo ainda trabalhado durante muito tempo como funcionário público. Filho e neto de camponeses, de origens humildes, dificilmente poderia ter imaginado o que o futuro lhe guardaria;

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Para ajudar às finanças da família (mas também por gosto, segundo o próprio) dedicou-se durante mais de duas décadas à tradução, tendo traduzido autores como Colette, Pär Lagerkvist, Jean Cassou, Maupassant, André Bonnard, Tolstoi, Baudelaire, Étienne Balibar, Nikos Poulantzas, Henri Focillon, Jacques Roumain, Hegel e Raymond Bayer;

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Se tem o sonho de viajar mas continua a adiar esses planos, lembre-se que, embora a obra literária de Saramago tenha viajado, e continue a viajar, um pouco por todo o mundo, Saramago só fez a sua primeira viagem aos 47 anos. O destino eleito foi Paris;

6

Antes de conhecer Pilar, a mulher que ainda não havia nascido e tanto tardou a chegar, Saramago foi casado com a pintora Ilda Reis, com quem teve a sua única filha (Violante) e teve uma relação com a escritora Isabel da Nóbrega;

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Tendo sido alvo de censura pelo Governo português e pela Igreja Católica, pelo seu sobre o romance O Evangelho segundo Jesus Cristo, mas também pelo seu militantismo comunista, mudou-se para Lanzarote com Pilar, onde ficou até ao final dos seus dias. Contudo, mantinha em Lisboa uma casa no Bairro do Arco do Cego, que lhe servia de residência durante as suas permanências na capital;

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Sabe como Saramago descobriu que tinha sido laureado com Nobel da Literatura? Foi uma assistente de bordo que lhe disse. No dia anterior, Pilar del Río tinha recebido um telefonema de um amigo, professor na Suécia e ligado à Academia Sueca, a informá-la que, no dia seguinte, a Academia Sueca iria anunciar que o Nobel seria atribuído a Saramago e pediu-lhe segredo. Coube-lhe, contudo, a responsabilidade de garantir que Saramago não embarcasse no voo que tinha agendado, de regresso a casa, sem, no entanto, lhe revelar o motivo. Nessa noite, Pilar tenta convencer Saramago a ficar, alegando que se embarcar perderá o anúncio do Nobel. Ao que o mesmo, sem se dar por convencido, riposta: "E se ficar, perco o Nobel e o avião." Já no aeroporto de Frankfurt, os representantes da comitiva portuguesa são informados que Saramago já havia embarcado. Depois de explicado o motivo, os funcionários aceitam entrar no avião e pedir a Saramago que regressasse. Foi aí que uma assistente da companhia aérea Ibéria, lhe fez o comunicado;

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Se tem um daqueles nomes que as pessoas insistem em pronunciar mal, não se sinta mal. Também Saramago, após o reconhecimento internacional que obteve com o Nobel, passou pelo mesmo. Na altura, todos os nomes eram válidos para satisfazer a curiosidade do mundo: “Samarado” “Saranago” ou “Siromago”. O The New York Times esclareceu os seus leitores: “It’s pronounced Saw-ra-maw-go”;

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José Saramago tinha três cães – Pepe, Greta e Camões. Este último ganhou o nome do poeta português pois apareceu na vida do autor na épocaem que este foi anunciado como vencedor do prémio Camões (1995). Sobre isso, Pilar recorda: “E assim, pelo menos em Lanzarote, Camões foi mencionado centenas de vezes por dia, foi vida e foi homenagem.” Quando o autor faleceu, o amigo que estava lá em casa e ali passou a noite, atribuiu, no dia seguinte, o seguinte título à sua coluna jornalística: “Camões chora por Saramago”.

Artigo original: Bertrand Livreiros